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31 julho 2018

Uma Leitura Interseccional do cuidado ...


Mesa redonda na Abrasco 2018
Mesa Redonda: Uma leitura interseccional do cuidado com pessoas que usam drogas: incremento do estigma ou ampliação do olhar? Componentes da mesa: Emiliano de Camargo David (expositor), Flávia Fernando Lima Silva (expositora), Ana Lucia Marinho Marques (expositora). Elda de Oliveira (coordenadora da mesa).

Eu, coordenadora da mesa, poderia palpitar, todavia, cumpri o roteiro.  Neste espaço, trago indagações que me restaram. Antes, colocarei partes das discussões dos expositores. 

O primeiro a falar foi Emiliano. Ele dividiu sua fala em três eixos - o retrocesso da Política Nacional Anti-drogas [Proibicionista], Reinvenção do manicômio e a Psiquiatria Biomédica. Discorreu cada eixo tomando seus pontos centrais. Da Política abordou a questão da abstinência,  meta do tratamento, e questionou o papel do Estado (judiciário) prendendo consumidores de drogas. Trouxe a questão da polícia é o racismo institucional. Abordou o proibicionismo, guerra às drogas, matando jovens negros mais que países em guerra aberta. Abordou a questão do sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS) um sistema em que seus usuários são 70%  negros. Logo, sucatear o SUS é sucatear a saúde do povo negro. A reinvenção do manicômio são as comunidades terapêuticas que trancafiam os negros em nome do tratamento. Questionou quem está comandando as comunidades terapêuticas, os neopentecostais.  Emiliano abre ampla discussão para pesquisadores atentos para o encarceramento dos jovens negros, moradores das bordas da cidade. 

Ana Lucia abre sua fala com um texto da antropóloga Laura Moutinho:  Diferenças e desigualdades negociadas: raça, sexualidade e gênero em produções acadêmicas recentes . Moutinho faz o seguinte questionamento - "Como nos tornamos 'nós'? Como nos tornamos 'eles'?" A partir do texto Ana Lucia expõe o dilema que vivemos na prática do cuidado aos consumidores de drogas. Lidamos com as duas Políticas sobre drogas - Ministério da Saúde a favor da redução de danos e o SENAD do Ministério Público - proibicionista. Ana afirma que não se deve simplificar o atendimento aos consumidores de drogas, deve ser problematizado a discussão de raça, classe e gênero nos serviços.

Flávia Fernanda abre sua fala com narrativas que coletou durante os seus atendimentos, como médica psiquiatrica, atendendo mulheres nordestinas. Flávia traz a questão do Estado, esse que tem o direito de matar os párias da sociedade, em nome de uma sociedade sem drogas.  Coloca a plateia para pensar sobre o encarceramento de mulheres, a legitimidade da polícia em matar e prender jovens considerados traficantes e não trabalhadores do tráfico, a dificuldade das mães em encontrar espaços para chorar a morte dos filhos, morte legitimada pela polícia. Finaliza afirmando - não se deve simplificar o atendimento na clinica do consumo de drogas,  solicita uma clinica inclusiva.

Foram as questões que consegui apreender das falas. Em seguida abrimos para o público. Uma pergunta gira na minha mente. A pergunta foi de um médico colombiano que diz - O que vocês têm a dizer ao povo que está na Lapa gritando pela libertação do Lula, apoiando a esquerda, sendo que os dados que Emiliano trouxe são dados recentes em que o Estado era de esquerda?

 Neste espaço que venho produzindo sobre consumo de drogas, Politicas de Saúde e cuidado das pessoas - trarei alguns pensamentos que giravam e giram na minha mente.

O tema consumo de drogas na sociedade contemporânea é um desafio. O consumo de drogas ocorre não apenas entre a classe trabalhadora, mas entre todas as classes sociais. Todavia, a questão do jovem trabalhador do tráfico, trancafiado nas cadeias recai apenas aos jovens pobres.  Do meu ponto de vista, a classe hegemônica deve ser chamada para mostrar sua cara e o seu consumo, pois depende do trabalho do jovem da periferia. Uma questão em aberta nas discussões inclusive teórica.

O Estado, na forma da lei representa a classe dominante, seja ele de esquerda ou de direita. Precisamos repensar o Estado. Como se faz isso?

Trazer a discussão para os serviços que atendem os consumidores de drogas. Como fazer isso? Os  serviços são terceirizados, estão nas mãos da classe dominante. Os trabalhadores são enrijecidos, necessitam do trabalho, ao ampliar a discussão corre o risco de perder o trabalho. Há trabalhadores que não estão interessados na discussão, mas apenas no salário do fim do mês. Isso é um problema? Vivemos no capitalismo, o mercado exclui os que não se adequam. Como trabalhar essas questões?