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09 setembro 2009

PRÁTICAS ASSISTENCIAIS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE ÁLCOOL TABACO E OUTRAS DROGAS

O conjunto de modificações na assistência em saúde mental, produzidas desde o final da década de 1970, atingiu seu ápice no anos 1980 com a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Este movimento inspirou-se na reforma psiquiátrica italiana, de negação dos manicômios e partiu para investimentos em ações de reinserção social. No ano de 2001, o seminário realizado em Brasília sobre o Atendimento aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, enfocava a discussão sobre a organização da rede em saúde mental, visando ao aprimoramento constante da assistência, no âmbito do Sistema Único de Saúde, às pessoas com transtornos mentais decorrentes do consumo de álcool, tabaco e outras drogas. Como conseqüência do Seminário e da III Conferência Nacional de Saúde Mental, o Ministério da Saúde, em 2002, institui, no âmbito do SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada a Usuários de Álcool e Outras Drogas, por meio da Portaria GM/MS nº 816, de 30 de abril de 2002(3).
O Ministério da Saúde propõe que os novos equipamentos de saúde considerem o caráter multifatorial do consumo de drogas, realizando diálogos com os serviços culturais, sociais e outras instituições de saúde, estruturando uma rede de assistência na atenção comunitária com ênfase na reabilitação e reinserção social. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas – CAPS adII configuram-se como equipamentos estratégicos para essas novas práticas.

Modelo de Assistência do CAPS adII
Busca o rompimento do modelo clínico, centrando-se na individualização do sujeito e no seu modo de viver, buscando a superação dos modelos conhecidos.
O acolhimento deve ser realizado em todo o período em que os CAPSs estejam abertos e com equipe disponível todo o tempo, devido à ambivalência dos usuários em procurar atendimento, o que para os profissionais representam uma futura superação. Entrevista individual a fim de conhecer a história pregressa e de uso de drogas. O Plano terapêutico é realizado pela equipe em conjunto com o usuário; ficando um profissional como referência, realizando possíveis intervenções no plano terapêutico.
Primeiro momento, os usuários passam em consultas, realizadas por diversos profissionais, como o clínico, o psiquiatra, a assistente social, o enfermeiro entre outros. A consulta com o clínico é obrigatória, uma vez que podem surgir diversas complicações físicas acarretadas pela dependência de álcool, tabaco e outras drogas.
Segundo momento; terapia de grupo amplamente utilizada no tratamento para dependentes de álcool, tabaco e outras drogas. Os grupos podem ser fechados ou abertos. O grupo aberto recebe sempre novos usuários; os fechados são grupos de, aproximadamente, 8 a 10 pessoas, selecionados por características comuns.
Oficinas terapêuticas espaços, que levam à participação, à criatividade, à produtividade e às potencialidades dos usuários desenvolvendo sua auto-estima e autoconfiança e a integração no grupo. Nas oficinas há lugar para diversos saberes, tendo os profissionais de Saúde Mental a responsabilidade de oferecerem aos usuários todas as ações necessárias para lhes assegurar assistência, reabilitação e ressocialização(9). Há oficineiros parceiros de outras secretarias do Estado e Município (Cultura, Bem-Estar), sempre com a supervisão de um técnico da área de saúde mental.
Níveis de assistência no CAPS adII
Historicamente os indivíduos dependentes de álcool e outras drogas eram encaminhados aos programas de tratamentos mais intensivos, isto é, em regime de internação. Os níveis de assistência são considerados pelos profissionais, ao elaborarem o plano terapêutico, não ficando claros os critérios utilizados para encaminhá-los. O nível de assistência ocorre em Três Momentos:
Momento do Intensivo – aonde o usuário vem todos os dias; Momento Semi–intensivo – aonde ele vem dentro de uma programação já previamente estabelecida por uma equipe que o atende. É o Ambulatorial – aonde seu retorno é mais espaçoso.
Um dos critérios apontados para encaminhar ao intensivo leva em consideração a intoxicação e a Síndrome de Abstinência do Álcool – SAA. Os usuários intoxicados ou em síndrome de abstinência de álcool e outras drogas são atendidos nos leitos de observação por uma equipe multidisciplinar. Estes terão um período de desintoxicação com cuidados médicos e de enfermagem mais intensivos. Recebem cuidados durante o dia e ao longo dos dias e retornando, mais vezes, ao tratamento. Antes ser designado para qualquer tipo de intensidade de tratamento, se constatado que o usuário está intoxicado, este passa por uma desintoxicação, que faz parte do intensivo.
Notamos que nem todos concordam com a assistência que leva em consideração os leitos de observação
Concordamos que os usuários não podem ter suas vidas colocadas em risco e lembramos que já existem critérios científicos amplamente conhecidos para avaliar a síndrome de abstinência. Caso verifique a impossibilidade do acompanhamento do usuário no CAPS adII estes devem ser transferidos para um hospital geral.
Dentro deste modelo de assistência, a equipe multiprofissional não deve ser composta apenas por profissionais da saúde, e sim utilizar de uma interdisciplinaridade mais abrangente. A reorientação o modelo de atenção aos usuários de álcool e outras drogas para inclusão do cuidado sem estigmas e discriminação é um desafio. Muitos projetos de assistência aos usuários de álcool e outras drogas nos CAPS adII não são homogêneos. Embora exista uma tendência de uniformização, os conceitos e as práticas assistenciais são muitos e diversos entre os atores que a executam. O uso prejudicial do álcool e outras drogas decorrem de fatores multifacetados propondo que a linha de raciocínio caminhe em direção à assistência psicossocial.

ReferênciasSaraceno B, Asioli F, Tognoni G. Manual de saúde mental. São Paulo: Hucitec; 1997.
Ferreira SP, Luis MAV.
Ministério da Saúde (BR). Portaria/GM n. 336, de 19 de fevereiro de 2002. Estabelece que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional. In: Ministério da Saúde (BR). Legislação em saúde mental 1990-2001. 3ª ed. rev. e atual. Brasília (DF): Centro de Documentação; 2002. p. 111-20.



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Um comentário:

Anônimo disse...

Elda, estou realizando uma pesquisa sobre os instrumentos de triagem de uso de álcool e encontrei um post de 2006: "O CAGE tem se mostrado um instrumento de triagem para pessoas com dependência de álcool, conhecido internacionalmente, de fácil aplicação, econômico, validado em uma grande quantidade de culturas, usado em trabalhos de prevalência em populações, ambulatórios e hospitais sendo recomendado seu uso no Brasil pelo Ministério da Saúde (1994)"

Gostaria de saber qual bibliografia é essa do MS.

Espero um email,

obrigada

nadia.hild@hotmail.com